Embriagado, um homem adentra a pequena mercearia instalada no Mercado Municipal Miguel Sutil, na avenida Generoso Ponce, região central de Cuiabá. Os olhos do comerciante Sebastião Freitas de Palma, 54, que está sentado como de costume atrás de sua bancada, acompanham a todos os movimentos do possível cliente.
"Tem pão?", pergunta o homem trôpego, que recebe uma resposta positiva de Palma. "É cinquenta centavos cada? Já estou mais para lá do que para cá. Me vê dois".
Falta de segurança é uma das principais preocupações do comerciante, que está instalado no local há pelo menos 30 anos. O cheiro etílico misturado ao de urina evidenciam que o local está abandonado pelo poder público.
Leitores do #GD denunciaram problemas de infraestrutura no local, como telhados quebrados, falta de hidrantes para combate a incêndio, paredes rachadas, além do asfalto em péssimas condições. De acordo com Palma, existiram reuniões com a Prefeitura, mas a revitalização ficou apenas na promessa.
"Tem que derrubar tudo e fazer outro. Só revitalizar não vai dar porque está bem decadente a situação. A parte física, tudo. Vai ter que fazer um outro projeto, colocar mais boxes para ter mais atividade. Tem muitos espaços ociosos, é tudo mal aproveitado", explicou.
O local é composto por aproximadamente 26 comerciantes que, teoricamente, deveriam pagar pela ocupação do solo no local no valor de R$ 100 por metro quadrado. Contudo, conforme relato do comerciante, não há esta cobrança por parte do poder executivo municipal.
"Hoje em dia as pessoas preferem comprar nos mercados que têm ar-condicionado, tem espaço. As pessoas deixaram de frequentar e aí deixaram de investir. Foi só decaindo. Tem usuário de drogas e isso é de do conhecimento do prefeito, da polícia, de tudo, mas continua e isso até afasta os outros clientes".
Gilberto Durigon, 55, tem uma loja de ração no local há pelo menos 18 anos. Para ele, a decadência do mercado se deu depois que os bares foram inaugurados. Ele explica que os portões ficam abertos noite adentro sem nenhum tipo de controle, o que abre brechas para a falta de cuidado e o descaso.
"Queríamos colocar uma associação para ter regras, mas ninguém quis porque quando começa a cobrar você sabe. Aqui era pra fechar às 20h e abrir só no outro dia de manhã, mas atravessa a noite com bar funcionando ali dentro", pontuou.
Ele reafirmou que todos os prefeitos organizaram reuniões com os comerciantes e prometeram mudanças, mas nada até agora teve efetividade. Nos 18 anos em que está instalado no local, ele foi assaltado 18 vezes.
"Hoje eu acho que a prefeitura já nem recebe mais a gente lá. A gente já foi várias vezes, só vai lá para encher o saco deles para fazer alguma coisa. Eles fazem uma reuniãozinha, vão embora e nunca mais voltam" disse.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Cuiabá para saber se há algum projeto de revitalização do mercado. Em nota, a assessoria informou que o Mercado Municipal Miguel Sutil faz parte do cronograma de obras previstas para 2019 e que estudos preliminares já estão sendo realizados.
Confira nota na íntegra:
"Em relação ao projeto de revitalização do Mercado Municipal, a Prefeitura de Cuiabá por meio do Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano (IPDU) informa que o local está dentro do cronograma de obras previstas para 2019. Estudos preliminares já estão sendo feitos para levantamento das necessidades existentes. Que tipos de melhorias poderão ser executadas.
O projeto inicial foi o Mercado do Porto, que já está na fase da licitação para escolha da Empresa responsável pela execução dos trabalhos. O Mercado Municipal está dentro do planejamento de melhorias dos principais pontos turísticos da Capital.
A Prefeitura de Cuiabá informa que o terreno onde hoje fica localizado o Mercado Municipal, foi adquirido pela Câmara de Vereadores em 1903. Décadas depois, em 1940 a edificação foi erguida, permanecendo sob responsabilidade do Poder Legislativo até o final de 2017.
O superintendente do Instituto De Planejamento E Desenvolvimento Urbano (IPDU), Márcio Puga explica que em 2000, o então prefeito, Roberto França chegou a assinar uma lei que autorizava a transferência do prédio para o Executivo Municipal.
O trâmite, contudo, só foi efetivado no último ano, quando, por determinação do prefeito, Emanuel Pinheiro, o órgão fez o levantamento dessas informações. A partir daí a gestão deu início aos estudos de viabilidade que subsidiaram um diagnóstico arquitetônico e social do espaço.
O levantamento resultou no lançamento de um edital de reforma que garantirá a revitalização tanto do Mercado quanto do estádio Eurico Gaspar Dutra (Dutrinha). O processo seletivo conta com a parceria do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) e do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA).
A escolha das plantas será feita por uma comissão formada por oito profissionais. Deste número, dois pertencem ao CAU, dois ao CREA, dois a Prefeitura de Cuiabá e outros dois a instituições de ensino superior que serão convidadas pela administração.
"Os projetos deverão obedecer a critérios mínimos previstos em edital, garantindo que algumas demandas básicas sejam sanadas. Os profissionais poderão usar a criatividade, mas respeitando itens como a quantidade de lojas e vagas de estacionamento, como, por exemplo, no caso do Mercado” diz Puga."
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