A incansável Serys Slhessarenko, Carreira brilhante na política

Carreira brilhante na política, nenhum processo por improbidade ou questionamento ético

DINALTE MIRANDA/DC
Serys concorre ao cargo de prefeita de Cuiabá pela terceira vez, pela coligação “Cuiabá levada a sério”
Da Redação

Mulher, 71 anos, carreira brilhante na política como deputada estadual e senadora, nenhum processo por improbidade ou questionamento ético, aposentada como professora da Universidade Federal de Mato Grosso e convalescendo de um acidente vascular cerebral (AVC). Hora de descansar, viajar, curtir os netos, certo?

Certo, se a pessoa da qual estivéssemos falando não fosse Serys Slhessarenko, que menos de seis meses depois de sair do Hospital Sírio-libanês, em São Paulo, onde ficou internada para tratar de um AVC, já estava nas ruas de Cuiabá para pedir votos para prefeita.

Primeira mulher senadora por Mato Grosso, eleita em 2002, Serys (PRB) concorre ao cargo de prefeita de Cuiabá pela terceira vez pela coligação “Cuiabá levada a sério”.

Natural de Cruz Alta (RS), ela mora em Mato Grosso desde 1966 e é a única mulher na disputa pela prefeitura municipal nestas eleições. Seu vice é Fabian Martinelli, também do PRB.

Considerada uma das mulheres mais atuantes na história da política mato-grossense, Serys é professora formada em Direito e pedagogia pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). No final da década de 1980, ela fundou o Partido dos Trabalhadores (PT), em Mato Grosso, pelo qual, em 2002, se elegeu senadora da República após surpreendentemente derrotar os ex-governadores Dante de Oliveira (já falecido) e Carlos Bezerra.

“Trouxe investimento para todo o Mato Grosso, especialmente, para a nossa Cuiabá. Sabe a Avenida das Torres? Sua construção só foi possível por causa dos recursos que consegui junto ao Governo Federal. Outros casos semelhantes foram as obras de asfaltamento dos bairros Jardim Comodoro e José Pinto. Esses são apenas três exemplos dentro de muitas conquistas que obtive para nossa cidade”, aponta a candidata em sua página na internet.

Entre as leis aprovadas, o destaque fica por conta da “Delação Premiada”, de sua autoria. Serys entende que a lei foi ferramenta indispensável para que o juiz Sérgio Moro e a Lava Jato desmascarassem todo o esquema de corrupção dentro da Petrobras e levassem para cadeia grandes empresários e políticos envolvidos com o desvio do dinheiro público. “Tenho muito orgulho de ter sido responsável por esta faxina na política nacional. Lugar de corrupto é nos tribunais, é atrás das grades”.

Mas o currículo político da candidata não para por ai. Em 2006, ela disputou o governo do Estado, mas também sem o apoio do mesmo grupo político do PT. Na disputa, Serys ficou em terceiro lugar, com 11,5% dos votos.

Já nas eleições de 2010, ela entrou em rota de colisão com o Partido dos Trabalhadores. Naquele ano, Serys defendia seu nome para concorrer à reeleição no Senado, mas o então deputado federal Carlos Abicalil alegava que o direito de disputar era seu.

A decisão foi para uma prévia interna dos petistas. Ao ser derrotada, a então senadora acusou o ex-deputado de traição e não incluiu os nomes dos candidatos majoritários do PT em seu material de campanha, na qual concorreu como deputada federal.

Por isso, a Comissão de Ética da executiva regional do partido chegou a recomendar a sua expulsão, por entender que houve infidelidade partidária de sua parte. Mesmo conquistando 78.543 votos, a sexta maior votação, Serys não foi eleita por conta do critério de proporcionalidade. Contudo, Abicalil também não conseguiu se eleger como senador.

Após o auge da turbulência, a ex-senadora decidiu se desligar do Partido dos Trabalhadores, para o qual militou por 23 anos. Com ela, um grupo de dezenas de militantes petistas também deixou o partido de Lula e Dilma.

À época, em carta aberta, Serys fez duras críticas ao PT e alegou ter sido prejudicada politicamente pelo chamado grupo majoritário do partido, que a essa altura apoiava a candidatura de Lúdio Cabral na disputa pela prefeitura da capital, em 2012. Ela, então, declarou seu voto ao candidato Mauro Mendes. "Fui perseguida, isolada e humilhada", afirmou.

VÍTIMA DO PT

A briga da ex-senadora com o PT já vinha de anos anteriores já que, em 1996, ela foi impedida pelo mesmo grupo, que tinha o notório tesoureiro Delúbio Soares como emissário do Diretório Nacional, de concorrer ao cargo de prefeita.

Porém, Serys já se sentia perseguida politicamente. Um dos motivos foi o fato de ter sido acusada de ser a mandante da tentativa de homicídio contra Sivaldo Dias Campos, ocorrida em 2000. Na época, Sivaldo era membro do PT e foi responsável por denunciar a “máfia de branco” existente no Sistema Único de Saúde (SUS).

Porém, as investigações apontaram que o mandante do crime foi o ex-petista Nicássio Barbosa, então candidato a vereador e que no início dos anos 2000 conquistou a terceira suplência, enquanto Sivaldo Campos ficou com a primeira. Barbosa e outros cinco envolvidos no crime já foram julgados e condenados à prisão.

Outro caso emblemático em que a candidata à prefeitura de Cuiabá se viu envolvida foi o da “Máfia dos Sanguessugas”, nome dado à operação realizada pela Polícia Federal (PF), em 2006, quando 46 pessoas foram presas suspeitas de participar de um esquema de superfaturamento na compra de ambulâncias para inúmeros municípios. Em 2009, a Polícia Federal chegou a indiciar mais de 400 pessoas supostamente ligadas à máfia.

O caso começou em 2002, ainda na gestão de Fernando Henrique Cardoso, mas se estendeu até o Governo Lula. A fraude consistia no uso de emendas parlamentares por deputados e senadores para a compra superfaturada de unidades móveis de saúde, em troca de propina.

Como senadora do PT, Serys foi acusada pela “CPI dos Sanguessugas” de envolvimento com o esquema depois que Luiz Antônio Vedoin, chefe da máfia, disse ter pago a Paulo Roberto Ribeiro, genro da senadora, um cheque de R$ 35 mil em troca de emendas dela para a compra de ambulâncias da Planam, empresa do próprio Vedoin. Ambos negaram a acusação.

Naquele mesmo ano, o Conselho de Ética do Senado a absolveu por unanimidade, com 13 votos a favor da ex-petista e nenhum contrário.