Orla do Porto apresenta falhas, rachaduras, mofo e cupim



Fissuras percorrem dezenas de metros nas calçadas do Ponto Turístico; Crea já havia elaborado relatório com falhas nas estruturas

Piso danificado em um dos setores da Orla do Porto, em Cuiabá
JAD LARANJEIRA 
DA REDAÇÃO




Um dos cartões postais mais visitados de Cuiabá, o Complexo Turístico da Orla do Porto apresenta falhas estruturais ainda mais graves do que as já detectadas há pouco mais de um ano.



A revitalização do local custou ao todo R$ 28 milhões e fazia parte das obras previstas para Copa do Mundo em 2014, mas só começou a ganhar forma em 2015 para, finalmente, ser entregue no fim de 2016.



O ponto turístico já havia sido, inclusive, alvo do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), que elaborou um relatório apontando inúmeras falhas e irregularidades nas obras.



Nesta semana a reportagem do MidiaNews esteve na Orla para verificar problemas denunciados por leitores e constatou a dimensão do problema.



Logo de cara é possível notar as inúmeras lajotas quebradas, em sua maioria já retiradas da calçada, aparentando uma pista totalmente deteriorada.




Alair Ribeiro/MidiaNews

A revitalização do local custou ao todo R$ 28 milhões

O que mais chama atenção, no entanto, são as enormes rachaduras em diversos trechos do piso. Algumas delas percorrem dezenas de metros em linha reta.



Uma das situações mais graves está concentrada no ponto onde estão as réplicas de casas antigas, local conhecido como a “Vila Cuiabana”. 



Dentro da Vila há uma das maiores rachaduras, que começa numa das pontas do protótipo e termina quase na outra.



A frente da estrutura também está visivelmente deteriorada, e em sua maioria com mofos por todo lado e sofrendo com a ação de cupins.



Além disso, foi flagrado um grupo de turistas dividindo o ambiente com moradores de rua, que dormiam no local, enquanto eles observavam as telas expostas.



Falhas detectadas



Em abril de 2017, um relatório do Crea - assinado pelos engenheiros Jesual de Arruda, André Schruring e Reynaldo Passos - apontava falhas na execução ou na concepção do projeto.



De acordo com o documento, algumas deficiências poderiam ser corrigidas com facilidade, porém outras apresentavam problemas estruturais.



“Das inúmeras patologias identificadas a maioria é de fácil correção, porém há patologias de ordem estrutural e não conformidades que oferecem riscos aos seus usuários”, diz trecho.



Uma das falhas mais graves, conforme o laudo, é construção do chamado Gabião, obra estrutural utilizada para conter os aterros na margem do Rio Cuiabá.



“A estrutura descrita situa-se na calha do Rio Cuiabá e está sujeita a águas de enchentes que poderá causar erosões na base, desestabilizando a referida estrutura”, aponta o relatório.



De acordo com o relatório, a má execução na construção desta estrutura acabou comprometendo vários outros pontos da orla.



“Identificou-se ao longo da Orla um afundamento ou acomodação do aterro, causando trincas e rachaduras na calçada”.



Também foram identificadas deformações nos restaurantes, banheiros e quiosques construídos sobre o gabião, além de tampas de concreto de poços mal localizadas, instalações elétricas improvisadas e sem devida isolação, obras de drenagem mal feitas e falta de sinalização em alguns pontos.




Alair Ribeiro/MidiaNews

A frente da Vila Cuiabana também está visivelmente deteriorada, com mofo e também por cupim

Algumas construções no local ainda não foram finalizadas, mas também oferecem perigo aos visitantes, conforme os engenheiros.



“As construções ainda em andamento, sem a proteção de tapumes, apresentando objetos ponteagudo e cortante, [são] riscos eminentes aos usuários”, adverte o laudo.



Ao final, o laudo diz que a Orla do Porto de Cuiabá foi entregue inacabada.



Outro lado



O secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, Juares Silveira Sameniego, afirmou que a Orla do Porto deve passar por um processo de reestruturação e reparos no começo de setembro.



A ideia é realizar as obras em um período de seca.



“Onde foi quebrado será recuperado. E onde houve as fissuras, nós vamos fazer um acompanhamento de ignição para detectar o que aconteceu, o que foi cedido e o que desestabilizou. A gente vai fazer a dilatação das rachaduras e recuperar o piso”, afirmou.



O secretário afirmou ainda que a administração Emanuel Pinheiro (MDB) já recebeu a obra da gestão anterior com problemas. E, segundo ele, não adianta ficar fazendo reparos.



“Aquela é uma obra da gestão anterior. É uma obra que não teve projeto. Você vê aquelas rachaduras, elas são provenientes de acomodação do solo. Então não adianta eu fazer um reparo emergencial hoje porque daqui uns três meses está tudo trincado de novo”, explicou.



“Ela já começou de forma errada, a gente não conseguiu detectar os projetos. O próprio Município na época não aprovou um projeto para lá. Isso tem que ser tomado conhecimento. E tudo na engenharia precisa de um projeto bem feito. É sinal de qualidade da obra. E a gente não conseguiu achar o projeto desde o início do ano passado. Então não tem como detectar o erro”, afirmou.



O gestor afirmou ainda que parte dos descolamentos nas calçadas não foi por irregularidades na obra, mas sim por mal uso, em eventos ou shows no local.



“Aquele piso não suporta o peso em eventos. A gente está definindo qual secretaria que vai começar a monitorar o uso dos espaços públicos, se é a de Meio Ambiente, Sec 300, a de Serviços Urbanos...”.



De acordo com ele, o prefeito se prontificou a elaborar um decreto determinando qual das secretarias ficará responsável por conceder autorizações para eventos na Orla.



Quanto ao relatório do Crea, o secretario afirmou que as sugestões para a regularização das falhas foram cumpridas em parte.



“O gabião é uma das coisas que o Crea fala que não deveria ser feito daquele jeito. Mas aquilo ali não tem como ser consertado. Não tem como eu tirar uma peça daquela. Eu teria que desestabilizar para mexer. E o solo demora pra estabilizar. Se ele se mantiver do jeito que está, ele se recupera. O problema é que ele pode afundar mais e romper o gabião. Há uma série de coisas, que precisam ser analisadas. Então o relatório do Crea foi atendido em parte porque é uma obra que já veio para a gente com vícios construtivos. Há certas coisas que não há como resolver”, disse.

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