Redação
Novo depoimento do réu Silvio Cézar Corrêa, ex-chefe de gabinete do então governador Silval Barbosa, prestado à Polícia Federal, “detona” com os argumentos do ex-deputado estadual e hoje prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), que rebateu as imagens onde ele aparece, em um gabinete do Palácio Paiaguás, quando ainda era parlamentar e Silval governava o Estado, recebendo maços de dinheiro e enfiando-os, atabalhoadamente, nos bolsos do paletó, deixando cair pacotes com cédulas – protagonizando uma cena que seria até cômica se não fosse um ato explícito que leva a fortes indícios que se tratava de corrupção.
Na tentativa de buscar uma explicação para o que se convencionou chamar de “batom na cueca”, Pinheiro alegou que o vídeo, reproduzido pela Rede Globo e daí indo para o universo ilimitado das redes sociais, era uma “armação” de quem fez a gravação com intuito de incriminá-lo como corrupto, quando na verdade, segundo o prefeito, ele fora ao Palácio Paiaguás para receber uma dívida que um seu irmão, que trabalha com pesquisas de opinião pública, tinha junto a Silval Barbosa por serviços prestados.
A desculpa de Pinheiro fica difícil de ser sustentada a partir de agora, quando o autor das filmagens, Sílvio Corrêa, voltou a ser inquerido pela PF e apresentou provas documentais de que o vídeo constrangedor fora feito antes da cobrança das pesquisas, o que realmente ocorreu, porém meses depois.
Para saber mais detalhes desse caso escabroso, leia também reportagem publicada na edição de hoje (9), do jornal Diário de Cuiabá.
Eis a íntegra da matéria:
Relatório da PF aponta que dinheiro no paletó do prefeito Emanuel Pinheiro não foram para pagar dívida com seu irmão Popó
PABLO RODRIGO
Diário de Cuiabá
Relatório parcial da Polícia Federal encaminhado ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e a procuradora-geral da República Raquel Dodge, aponta que a tese de defesa do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) - de que a gravação onde aparece recebendo maços de dinheiro do ex-chefe de gabinete Sílvio César Corrêa, seria o pagamento de uma dívida entre o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) e o irmão do prefeito, o empresário Marco Polo de Freitas Pinheiro, conhecido como “Popó” -, não são verdadeiras.
Isso porque em novo depoimento à PF, no dia 23 de novembro do ano passado, Sílvio confirmou a dívida com Popó. Porém, o pagamento ocorreu somente em meados de 2014, meses após a gravação onde vários deputados aparecem recebendo maços de dinheiro.
“Silvio afirma que o valor recebido por Emanuel Pinheiro na ocasião da gravação dos vídeos não se trata de pagamento a Popó. De fato, houve prestação de serviço referente à pesquisa eleitoral efetuada pela empresa de Popó, porém ocorreu somente no ano de 2014 - ano eleitoral e ainda, após as gravações de Silvio terem ocorrido”, diz trecho do depoimento.
Silvio ainda explicou que ele repassou vários cheques próprios a Popó, que, por sua vez, repassou-os para pessoa de nome "Omar", que entrou em contato com Silvio no intuito de confirmar se tais cártulas eram do próprio declarante e que, posteriormente, tais cheques foram protestados.
Diante das informações, a PF localizou no 4° Serviço Notarial de Cuiabá, cinco cheques protestados por falta de pagamento em nome Silvio Cesar Correa Araújo. “Tais cheques, de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) cada, foram emitidos na data de 05 de novembro de 2014 - ou seja, no mesmo período mencionado por SILVIO em seu depoimento, e cerca de 11 meses após a entrega de valores aos deputados estaduais e gravadas pelo colaborador”, diz outro trecho do relatório assinado pelo delegado responsável pela Operação Ararath, Wilson Rodrigues de Souza Filho.
O relatório parcial contesta a declaração do servidor da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, Valdecir Cardoso de Almeida, responsável pela instalação da câmera que filmou diversos deputados recebendo maços de dinheiro no gabinete da Governadoria, no Palácio Paiaguás, registrada em cartório onde afirma que o dinheiro em que o prefeito de Cuiabá seriam para pagar a dívida com “Popó”.
A declaração correu no dia 1º de setembro, no Cartório de 2º Ofício em Cuiabá e registrou a declaração, informando que o contexto em que Emanuel Pinheiro, na época deputado estadual, aparece no vídeo gravado Sílvio, seria por conta de uma dívida entre “Popó” e Silval Barbosa. “Quero deixar claro que não foi abordado neste vídeo, que o Dep. Emanuel tem um irmão chamado Popó, que é proprietário de um instituto de pesquisas políticas eleitorais, o qual esse instituto era o mesmo que prestava serviços para o então chefe de gabinete Silvio, e é do meu conhecimento que o instituto ‘Mark’ realizou várias pesquisas no Estado e na capital para o Silvio. Também sei que várias delas não foram pagas integralmente, pois diversas vezes o Popó falou comigo sobre pagamentos das mesmas que estavam atrasados, querendo que eu intercedesse junto ao Silvio, para que os pagamentos fossem quitado. Como eu ficava com o telefone do Silvio, recebi várias ligações do Popó, e passei todos os recados para o mesmo [Silvio], o qual me disse em oportunidade que já estaria resolvendo com então Dep. Emanuel.”, diz trecho da declaração assinada por Valdeci que na época era assessor de Silvio César Correa.
Caso Dodge e Fux acate as informações da PF, a situação do ex-prefeito poderá se complicar ainda mais, já que isso poderá configurar obstrução de justiça.
A defesa do prefeito Emanuel Pinheiro solicitou que Valdecir Cardoso de Almeida fosse ouvido pela justiça sobre o assunto. A defesa também solicita que um áudio gravado pelo ex-secretário de Estado Alan Zanatta, onde Silvio revela que teria ficado com um garimpo, também seja periciado e levado em consideração, além de que às investigações envolvendo o prefeito voltasse a ter sigilo.
Zanatta e Valdeci também poderão responder por tentativa de obstrução nas investigações.
Conforme a delação de Silvio Correa, Valdeci era seu ex-assessor e foi o responsável por colocar a câmera e ajustar o enquadramento.
Além de Emanuel Pinheiro, os deputados estaduais Gilmar Fabris (PSD), Zé Domingos Fraga (PSD), Baiano Filho (PSDB), os ex-deputados Jota Barreto (PR), Antônio Azambuja (PP), Alexandre César (PT), Airton Português (PSD), Luiz Marinho (PTB), o atual deputado federal Ezequiel Fonseca (PP) e a prefeita de Juara Luciane Bezerra (PSB), aparecem nos vídeos.
De acordo com a delação de Silvio, as gravações foram feitas devido à pressão que a Assembleia exercia sobre o governo. Como exemplo, afirma que mensagens do Executivo não eram votadas sem a liberação do mensalinho de R$ 50 mil.
A nossa reportagem tentou entrar em contato com a defesa do prefeito Emanuel Pinheiro e com Valdeci, mas até o fechamento desta edição, não atendeu as nossas ligações.
Na tentativa de buscar uma explicação para o que se convencionou chamar de “batom na cueca”, Pinheiro alegou que o vídeo, reproduzido pela Rede Globo e daí indo para o universo ilimitado das redes sociais, era uma “armação” de quem fez a gravação com intuito de incriminá-lo como corrupto, quando na verdade, segundo o prefeito, ele fora ao Palácio Paiaguás para receber uma dívida que um seu irmão, que trabalha com pesquisas de opinião pública, tinha junto a Silval Barbosa por serviços prestados.
A desculpa de Pinheiro fica difícil de ser sustentada a partir de agora, quando o autor das filmagens, Sílvio Corrêa, voltou a ser inquerido pela PF e apresentou provas documentais de que o vídeo constrangedor fora feito antes da cobrança das pesquisas, o que realmente ocorreu, porém meses depois.
Para saber mais detalhes desse caso escabroso, leia também reportagem publicada na edição de hoje (9), do jornal Diário de Cuiabá.
Eis a íntegra da matéria:
Relatório da PF aponta que dinheiro no paletó do prefeito Emanuel Pinheiro não foram para pagar dívida com seu irmão Popó
PABLO RODRIGO
Diário de Cuiabá
Relatório parcial da Polícia Federal encaminhado ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e a procuradora-geral da República Raquel Dodge, aponta que a tese de defesa do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) - de que a gravação onde aparece recebendo maços de dinheiro do ex-chefe de gabinete Sílvio César Corrêa, seria o pagamento de uma dívida entre o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) e o irmão do prefeito, o empresário Marco Polo de Freitas Pinheiro, conhecido como “Popó” -, não são verdadeiras.
Isso porque em novo depoimento à PF, no dia 23 de novembro do ano passado, Sílvio confirmou a dívida com Popó. Porém, o pagamento ocorreu somente em meados de 2014, meses após a gravação onde vários deputados aparecem recebendo maços de dinheiro.
“Silvio afirma que o valor recebido por Emanuel Pinheiro na ocasião da gravação dos vídeos não se trata de pagamento a Popó. De fato, houve prestação de serviço referente à pesquisa eleitoral efetuada pela empresa de Popó, porém ocorreu somente no ano de 2014 - ano eleitoral e ainda, após as gravações de Silvio terem ocorrido”, diz trecho do depoimento.
Silvio ainda explicou que ele repassou vários cheques próprios a Popó, que, por sua vez, repassou-os para pessoa de nome "Omar", que entrou em contato com Silvio no intuito de confirmar se tais cártulas eram do próprio declarante e que, posteriormente, tais cheques foram protestados.
Diante das informações, a PF localizou no 4° Serviço Notarial de Cuiabá, cinco cheques protestados por falta de pagamento em nome Silvio Cesar Correa Araújo. “Tais cheques, de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) cada, foram emitidos na data de 05 de novembro de 2014 - ou seja, no mesmo período mencionado por SILVIO em seu depoimento, e cerca de 11 meses após a entrega de valores aos deputados estaduais e gravadas pelo colaborador”, diz outro trecho do relatório assinado pelo delegado responsável pela Operação Ararath, Wilson Rodrigues de Souza Filho.
O relatório parcial contesta a declaração do servidor da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, Valdecir Cardoso de Almeida, responsável pela instalação da câmera que filmou diversos deputados recebendo maços de dinheiro no gabinete da Governadoria, no Palácio Paiaguás, registrada em cartório onde afirma que o dinheiro em que o prefeito de Cuiabá seriam para pagar a dívida com “Popó”.
A declaração correu no dia 1º de setembro, no Cartório de 2º Ofício em Cuiabá e registrou a declaração, informando que o contexto em que Emanuel Pinheiro, na época deputado estadual, aparece no vídeo gravado Sílvio, seria por conta de uma dívida entre “Popó” e Silval Barbosa. “Quero deixar claro que não foi abordado neste vídeo, que o Dep. Emanuel tem um irmão chamado Popó, que é proprietário de um instituto de pesquisas políticas eleitorais, o qual esse instituto era o mesmo que prestava serviços para o então chefe de gabinete Silvio, e é do meu conhecimento que o instituto ‘Mark’ realizou várias pesquisas no Estado e na capital para o Silvio. Também sei que várias delas não foram pagas integralmente, pois diversas vezes o Popó falou comigo sobre pagamentos das mesmas que estavam atrasados, querendo que eu intercedesse junto ao Silvio, para que os pagamentos fossem quitado. Como eu ficava com o telefone do Silvio, recebi várias ligações do Popó, e passei todos os recados para o mesmo [Silvio], o qual me disse em oportunidade que já estaria resolvendo com então Dep. Emanuel.”, diz trecho da declaração assinada por Valdeci que na época era assessor de Silvio César Correa.
Caso Dodge e Fux acate as informações da PF, a situação do ex-prefeito poderá se complicar ainda mais, já que isso poderá configurar obstrução de justiça.
A defesa do prefeito Emanuel Pinheiro solicitou que Valdecir Cardoso de Almeida fosse ouvido pela justiça sobre o assunto. A defesa também solicita que um áudio gravado pelo ex-secretário de Estado Alan Zanatta, onde Silvio revela que teria ficado com um garimpo, também seja periciado e levado em consideração, além de que às investigações envolvendo o prefeito voltasse a ter sigilo.
Zanatta e Valdeci também poderão responder por tentativa de obstrução nas investigações.
Conforme a delação de Silvio Correa, Valdeci era seu ex-assessor e foi o responsável por colocar a câmera e ajustar o enquadramento.
Além de Emanuel Pinheiro, os deputados estaduais Gilmar Fabris (PSD), Zé Domingos Fraga (PSD), Baiano Filho (PSDB), os ex-deputados Jota Barreto (PR), Antônio Azambuja (PP), Alexandre César (PT), Airton Português (PSD), Luiz Marinho (PTB), o atual deputado federal Ezequiel Fonseca (PP) e a prefeita de Juara Luciane Bezerra (PSB), aparecem nos vídeos.
De acordo com a delação de Silvio, as gravações foram feitas devido à pressão que a Assembleia exercia sobre o governo. Como exemplo, afirma que mensagens do Executivo não eram votadas sem a liberação do mensalinho de R$ 50 mil.
A nossa reportagem tentou entrar em contato com a defesa do prefeito Emanuel Pinheiro e com Valdeci, mas até o fechamento desta edição, não atendeu as nossas ligações.