
O governador Pedro Taques (PSDB) disse na manhã desta quinta-feira (10) que não irá permitir que “joguem o nome da família no lixo”. O chefe do Executivo se refere aos dois primos que foram presos na última quarta-feira (9) durante a deflagração da operação “Bônus”, 2ª fase da “Bereré”, que apura desvios de R$ 30 milhões no Detran de Mato Grosso.
Os advogados Pedro Jorge Zamar Taques, e seu irmão, que também é ex-secretário da Casa Civil, Paulo Cesar Zamar Taques, são acusados de fazer parte do esquema. Taques tentou se desvencilhar das acusações que recaem sobre os membros de sua família dizendo que não pode ser “responsável” por todos os atos de servidores e questiona se as fraudes.
Segundo as investigações da Delegacia Especializada em Crimes Fazendários e Contra a Administração Pública (Defaz), o esquema começou em 2009 e se manteve até a atual administração. “Estão querendo jogar o nome da minha família no lixo, e isso não vou permitir. Os adversários, aventureiros, aqueles que querem voltar ao passado, esses não preciso convencer. Me cabe falar ao cidadão. O nosso governo tem procurado fazer tudo o que é correto. Agora, eu não posso ser responsável por todos os atos de todos os servidores. Aliás, não sei nem se houve ato na nossa administração”, disse o governador durante entrega de cartões do programa Pró Família a pessoas carentes.
O chefe do Executivo de Mato Grosso disse ainda que, apesar das acusações, devem ser garantidos aos suspeitos a garantia à ampla defesa no processo. “Este fato precisa ser investigado, mas eu não costumo e não vou julgar as pessoas antes de conhecer o processo. Não conheço o processo, não li o processo. As pessoas precisam ter direito ao contraditório e à ampla defesa e, aí, o Judiciário vai decidir”, disse Pedro Taques.
Em relação a Paulo Taques, que já ocupou o primeiro escalão de sua gestão como Chefe da Casa Civil e foi exonerado em maio de 2017 após o escândalo das interceptações telefônicas ilegais promovidas pela Polícia Militar (PM), onde ele também é suspeito de mandar grampear uma amante, o governador disse que não conversa com o primo “há quase um ano”. “Eu não converso com Paulo Taques. Não há nenhuma influência dele no Governo, tanto que todas as áreas [da Casa Civil] já foram preenchidas. Mas precisa provar qual ato foi esse. Qual ato o nosso Governo praticou de errado, de ilícito, de imoral, para que seja responsabilizado. Objetivamente é isso”, disse ele.
Pedro Taques disse ainda que não tem medo de julgamento e que supostas mentiras compartilhadas em grupos de WhatsApp se propagam manchando a honra de políticos que, segundo ele, exercem a profissão mais perigosa que existe no Brasil. “Isso quem vai avaliar é o cidadão no momento correto. Eu não tenho medo de julgamento. Não tenho medo de investigação. De absolutamente nada disso. Mas é fato que hoje, no que se denomina pós-verdade, um grupo de WhatsApp que joga uma mentira se propala. Infelizmente, hoje ser político é a profissão mais perigosa que existe no Brasil”, avaliou o governador.
Em recado a seus adversários, o tucano avisou que não irá permitir que “aqueles que roubaram Mato Grosso possam enxovalhar” sua família, a quem ele disse que chegou em Mato Grosso no século XVIII. “Vou querer saber qual ato foi praticado na nossa administração que trouxe prejuízo ao cidadão. Porque nós praticamos todos os atos necessários. Fomos ao MPE, todos os secretários foram lá. Se foi praticado algum ato errado, as pessoas têm que ser responsabilizadas. Ninguém está acima da lei. Minha família está aqui desde 1720. Não vou permitir que aqueles que roubaram Mato Grosso possam enxovalhar, menoscabar, minha família”.
OPERAÇÃO BÔNUS
Segundo as investigações da Defaz, o deputado estadual afastado Mauro Savi (PSB) era o líder de um esquema que envolveu empresários e políticos notórios no Estado. O inquérito policial narra desvios promovidos por uma empresa (EIG Mercados) que prestava serviços ao Detran no registro de financiamento de veículos em alienação fiduciária, além de uma outra organização (Santos Treinamento) que lavava o dinheiro desviado.
O inquérito aponta que a EIG Mercados – que no início dos desvios, em 2009, chamava-se FDL Serviços -, repassava em torno de R$ 500 mil por mês de verbas obtidas pelo serviço que presta ao Detran de Mato Grosso por meio da Santos Treinamento. A empresa era uma espécie de “sócia oculta” nos trabalhos realizados ao departamento estadual.
O dinheiro chegava a políticos notórios do Estado - como o ex-governador Silval Barbosa, o deputado estadual Mauro Savi, além do ex-deputado federal Pedro Henry -, por meio de depósitos bancários e pagamentos em cheques promovidos pelos sócios da Santos Treinamento, como Claudemir Pereira, também conhecido como “Grilo”.
Além de Mauro Savi e Paulo Taques, também foram presos na última quarta-feira os sócios da Santos Treinamento, Claudemir Pereira dos Santos e Roque Anildo Reinheimer, o ex-CEO da EIG Mercados, Valter José Kobori, e o irmão de Taques, e advogado, Pedro Jorge Zamar Taques.
O Gaeco deve colher os depoimentos nesta quinta-feira de Mauro Savi, do ex-Chefe da Casa Civil, Paulo Taques, e os empresários Claudemir Pereira dos Santos e José Kobori. O presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (AL-MT), Eduardo Botelho (DEM), não foi alvo da operação “Bônus”, mas deve ser ouvido pelo órgão na próxima sexta-feira (11) em razão de também já ter sido sócio da Santos Treinamento entre setembro de 2010 e abril de 2013.