Pelo menos quatro dos principais apoiadores da campanha do candidato a prefeito Emanuel Pinheiro (PMDB) estão ligados à chamada “Máfia das Ambulâncias”, no caso que ficou conhecido nacionalmente como o “Escândalo dos Sanguessugas”.
O presidente estadual do PMDB, o deputado federal Carlos Bezerra, sua esposa Teté Bezerra, o deputado federal Ezequiel Fonseca (PR) e o senador Wellington Fagundes (PR) foram todos indiciados pela Polícia Federal por participação nos crimes.
Segundo os delatores do esquema, os irmãos Darci e Luiz Antônio Vedoin, Carlos Bezerra e sua esposa, Teté Bezerra, fizeram um acordo para receber R$ 100 mil com o compromisso de favorecer, com emendas, a empresa Planan, que montava as ambulâncias a serem distribuídas a prefeituras de todo o país.
Em uma planilha apreendida pela Polícia Federal (PF), foram lançados pagamentos a um então assessor de Teté, o valor de R$ 84 mil. Teté, ex-deputada estadual e federal, ocupou no governo Silval o cargo de secretária de Desenvolvimento do Turismo e, no início do mês passado, foi nomeada pelo governo Temer para exercer a função de secretária nacional de Qualificação e Promoção do Turismo, do Ministério do Turismo.
A Operação Sanguessuga foi deflagrada pela PF no dia 4 de maio de 2006 e revelou a existência de um esquema de desvios de recursos provenientes de emendas parlamentares direcionadas para a área de Saúde, em especial para a compra de ambulâncias e materiais hospitalares.
Em agosto de 2006, a CPI mista do Congresso, criada para investigar o caso, recomendou a cassação dos mandatos de três senadores e 69 deputados (incluindo o então deputado Wellington Fagundes), mas nenhum deles foi cassado.
A empresa Planan foi acusada de montar o esquema de superfaturamento, que chegava a 120%, e pagamento de propinas aos parlamentares e outras pessoas envolvidas. A organização criminosa teria iniciado a operação em 2001 e chegou a fornecer mais de mil ambulâncias para prefeituras em todo o pais, movimentando, à época, em torno de R$ 110 milhões.
Em relação a Wellington Fagundes, quando estourou o escândalo, ele era deputado federal pelo extinto PL (Partido Liberal). Em outubro de 2006, o PL se fundiu ao Prona (Partido da Reedificação da Ordem Nacional) dando origem ao atual PR (Partido da República), partido que é dirigido em Mato Grosso por Wellington, eleito senador em 2010. Conforme os irmãos Vedoin, Wellington recebeu R$ 100 mil em propina, em espécie. Parte do dinheiro foi pago pessoalmente e outra parte entregue a um dos seus assessores.
Já Ezequiel Fonseca, presidente do PP regional, foi denunciado em 2008 pelo Ministério Público Federal pelo envolvimento no Escândalo dos Sanguessugas. À época, ele era prefeito de Reserva do Cabaçal. Além deste processo, que corre no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, o deputado, um dos apoiadores de Emanuel, responde a outros processos cíveis, em primeira e segunda instâncias, no Tribunal de Justiça de Mato Grosso.
Ezequiel também responde a ação no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de ser uma dos integrantes do suposto esquema conhecido como “Máfia das Gráficas”, que teria desviado R$ 37,8 milhões da Assembleia Legislativa.
O STF abriu a investigação em 25 de agosto. Na denúncia, o Ministério Público Estadual (MPE) afirmou que o parlamentar teria se beneficiado do valor de pelo menos R$ 35 mil, através da conta bancária de sua cunhada, Rosilene de Fátima Basso, em 31 de outubro de 2012.
Time enrolado
Além dos três parlamentares citados, o time que apoia Emanuel Pinheiro, e que poderá compor um eventual governo ou contribuir com indicações de cargos, caso o candidato do PMDB se eleja prefeito, reúne personagens do mundo da política e também está enrolado em diversos escândalos. Entre eles está Valtenir Pereira, deputado federal do PMDB e um dos principais apoiadores de Emanuel.
Valtenir esteve envolvido na operação da Polícia Federal que apurou um esquema milionário de superfaturamento de redes de informática em escolas da Paraíba. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), deputados propunham emendas para beneficiar empresas ligadas ao esquema, em troca de propina.
Ao fazer buscas nessas empresas, a Polícia Federal encontrou notas fiscais de empresas que trabalharam na campanha de Valtenir à reeleição, em 2010. O deputado Valtenir responde ainda a um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por crimes contra a Lei de Licitações e também teve as contas rejeitadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MT).
Valtenir também fez um acordo com Carlos Bezerra para manter cargos no governo federal, por ocasião do impeachment de Dilma Roussef: um votaria contra, o outro a favor, de modo a garantir que, qualquer que fosse o resultado, os indicados de ambos seriam mantidos nos cargos em Brasília. Valtenir votou contra o impeachment de Dilma, Bezerra a favor.
O ex-governador e ex-secretário de Estado Osvaldo Sobrinho também já viu envolvido em fraude. Ele é doador de campanha e pai do candidato a vice-prefeito na chapa de Emanuel, Niuan Ribeiro. Em 2005, Osvaldo teve as contas julgadas irregulares pelo Tribunal de Contas da União (TCU), no período em que chefiou a Secretaria de Estado de Educação, entre 1991 e 1994. Segundo o TCU, ocorreram, na época, fraude em licitações e utilização de notas fiscais de empresas desativadas. Osvaldo também responde a ações de improbidade administrativa.
Yuri Bastos Jorge, ex-secretário de Estado e ex-presidente do MT Saúde (doador e um dos coordenadores da campanha de Emanuel), será julgado em novembro por supostas fraudes no MT Saúde. Por causa das irregularidades apuradas, além de Yuri, mais duas pessoas e uma empresa tiveram os bens bloqueados em R$ 3,3 milhões para o ressarcimento dos cofres públicos.
Rafael Bello Bastos, ex-secretário de Silval, ligado a Carlos Bezerra (doador e um dos coordenadores da campanha de Emanuel) foi preso preventivamente na Operação Hygeia (2010), da Polícia Federal, em uma operação de combate a fraudes na Funasa, que podem ter causado prejuízos de até R$ 200 milhões. Rafael foi acusado de ser um dos comandantes do esquema, junto com José Luiz gomes Bezerra, sobrinho do deputado Carlos Bezerra. Na época da prisão, Rafael era assessor de Bezerra. Atualmente preside em Mato Grosso a Fundação Ulysses Guimarães.
Outro que sobe no palanque de Emanuel é Carlos Ribeiro de Miranda, ex-tesoureiro do PMDB e assessor de Carlos Bezerra. Ao lado de Rafael Bastos e do sobrinho de Carlos Bezerra, José Luiz Bezerra, Miranda foi preso preventivamente na Operação Hygeia (2010). Menos de um ano após ser preso, foi nomeado como diretor de Veículos do Detran, no governo de Silval Barbosa. Já nesse cargo, Carlos Miranda passou a ser réu da Operação Ararath, juntamente com os seus irmãos, Edson Ribeiro de Miranda e José Gonçalo de Miranda e do já condenado Éder Moraes, que na ocasião era filiado ao PMDB. Todos são acusados da prática de diversos crimes conexos com crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, notadamente a operação clandestina de instituição financeira, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro.
Várzea Grande
Aliados de Emanuel em Várzea Grande também estão às voltas com problemas na Justiça. O ex-prefeito Wallace Guimarães (PMDB) teve o mandato de prefeito cassado por compra de votos, abuso de poder econômico e uso de “caixa dois” durante a campanha eleitoral de 2012; foi condenado a dois anos de prisão em regime aberto por porte ilegal de munição de arma de fogo.
O ex-secretário de Estado de Administração e delator, César Roberto Zílio, acusa Wallace de ter participado de esquema de fraudes durante a gestão de Silval Barbosa, tendo recebido R$ 2 milhões em propinas. Ligado a Wallace e também do PMDB está Evandro Pontes da Silva. Réu na Operação Sodoma, Evandro confessou ter pagado quase R$ 300 mil de propina ao grupo criminoso de Silval Barbosa; Wallace foi obrigado pelo Ministério Público Estadual a exonerá-lo do Departamento de Água e Esgoto (DAE-VG), porque uma de suas empresas prestava serviços para a prefeitura de VG.
Em tempo: esta lista seria muito maior caso fossem incluídas pessoas ligadas a apoiadores de Emanuel, como por exemplo o ex-deputado José Riva e a ex-secretária Janete Riva, pais da deputada estadual Janaína Riva. José Riva é nacionalmente conhecido como o político mais ficha-suja do país.