DOUGLAS TRIELLI
DA REDAÇÃO
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O candidato a prefeito de Cuiabá Julier Sebastião (PDT) afirmou que, caso vença o pleito marcado para 2 de outubro, irá avaliar se mantém os mais de 50 radares eletrônicos instalados na gestão Mauro Mendes (PSB). Ele admitiu a possibilidade de dar fim ao meio de fiscalização eletrônica.
Em entrevista exclusiva ao MidiaNews, o ex-juiz federal afirmou que os equipamentos se tornaram um “caça-níquel”. Segundo ele, a onda de vandalismo contra os radares é uma consequência da falta de diálogo com a sociedade em sua implantação.
Julier disse ainda que sua candidatura é a dos "sem-máquina”, ao contrário dos adversários Wilson Santos (PSDB) e Emanuel Pinheiro (PMDB). Para ele, ambos representam o mesmo grupo político, que se reveza no poder desde os anos 2000.
“O candidato do PSDB tem uma história que foi interrompida. Ele diz que quer ser perdoado e pagar sua dívida com os cuiabanos, mas tem que perguntar de que forma os cuiabanos querem receber essa dívida. Provavelmente, a maioria vai dizer que não é dando um novo mandato de prefeito a ele”, disse.
Ainda durante a entrevista, o candidato do PDT afirmou que irá rescindir o contrato com a CAB Ambiental, que o ex-vereador Lúdio Cabral (PT) será seu cabo eleitoral e que é o único dos postulantes a ter um plano de governo.
Confira os principais trechos da entrevista:
MidiaNews – Com a saída do Mauro Mendes na disputa, como fica o cenário eleitoral em Cuiabá? Há um novo inimigo a ser batido?

Nossos adversários são os mesmos que governam Cuiabá há 300 anos. Em 2000, estavam os mesmos candidatos, as mesmas propostas
Julier Sebastião – Nós sempre tivemos um lado nessa eleição em Cuiabá. Nossa base política sempre foi oposição à administração atual. Formulamos um projeto sabendo o lado que iriamos defender, que é o lado dos mais pobres, invertendo as políticas públicas da Capital, tirando o benefício de pequenos grupos e os transferindo para a maioria da população. Esse é o eixo do nosso programa de governo, da construção dessa aliança e isso não mudou. Continuamos do lado do mais fraco, vamos governar para aqueles que precisam dos serviços da Prefeitura. Então, do nosso ponto de vista, na nossa aliança, não houve nenhuma alteração. Houve alteração para o pessoal que é do mesmo grupo, os nossos adversários são os mesmos que governam Cuiabá há 300 anos. Em 2000, estavam os mesmos candidatos, as mesmas propostas e quase duas décadas depois, as mesmas pessoas, desconhecendo que nós mudamos, que os cuiabanos não são mais os mesmos, que a realidade é outra.
MidiaNews – Qual a diferença entre sua candidatura e as dos adversários?
Julier Sebastião – O nosso programa de governo tem um olhar para o futuro, um olhar de inclusão. Uma cidade moderna, como a que queremos que Cuiabá seja em seus 300 anos, é uma cidade que inclui suas pessoas, que inclui seu povo na sua política de administração. Significa incluir as mulheres, os negros, os jovens, idosos, trabalhadores e os pobres na história da cidade. É isso que queremos fazer, é esse nosso mote. Por isso que a alteração do outro lado do rio é um problema do lado de lá. O problema do lado de cá é a construção de um programa sério e transparente. Chegou o momento de Cuiabá pagar sua dívida social com o seu povo e é isso que nós colocamos como o centro do nosso programa de governo. É isso que norteia as políticas de Saúde, Educação, Saneamento e Cultura. E por isso eu fiz a crítica de que não podemos trazer personagens e propostas que eram do século XX para o século XXI, como se nada tivesse mudado. As pessoas que nasceram no ano 2000, hoje, têm 16 anos e vão votar. Ou seja, mudou tudo, só a cabeça deles que não.
Nós vamos falar como mudar a situação da Saúde, da Educação e do Transporte Público. Na mobilidade, vamos colocar Cuiabá com a passagem mais barata entre as capitais. E fazer isso é simples: basta inverter as prioridades. Ao invés de ficar passando mão na cabeça de empresários do transporte, vamos acariciar o nosso povo, que é quem mais precisa do transporte. Isso é inversão de prioridades.
Marcus Mesquita/MidiaNews

"Não podemos trazer personagens e propostas que eram do século XX para o século XXI, como se nada tivesse mudado"
MidiaNews – O que quer dizer com “passar a mão na cabeça de empresário”?
Julier Sebastião – Cuiabá tem uma das passagens mais caras do país, não tem licitação de empresa de ônibus. Quando se soube da última licitação de empresas de ônibus? Então, nós queremos que a passagem seja acessível, que o sistema de licitação seja respeitado.
MidiaNews – Como é atualmente a licitação?
Julier Sebastião – Via amizade. E é isso que não teremos mais, a via do compadrio na Prefeitura. Vamos fazer licitação séria, transparente, e com cláusulas que assegurem passagem baixa, qualidade alta e dignidade no transporte. As empresas não são obrigadas a participar da licitação se não quiserem fornecer isso. É livre o mercado. Mas quem participar e vencer vai ter que cumprir as cláusulas do contrato que vão estar presentes no edital.
MidiaNews – Como vê a questão do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos)?
Julier Sebastião – Tem um bilhão de razões enterradas aqui a justificar a conclusão desse importante modal de transporte. Os cuiabanos já esperaram os quatro anos da Copa do Mundo e já tem dois anos do novo Governo. São seis anos esperando e acreditando nisso. Precisamos exigir que o Governo do Estado respeite a população cuiabana e termine essa obra. Com o VLT, vamos poder integrar com o sistema de ônibus, via licitações limpas e transparentes. Vamos, ainda, regularizar o transporte de vans e mototáxi, e conceder novas licenças para os táxis em Cuiabá, que é uma das piores cidades no que se refere a esse serviço. O serviço é raro e caro. Além de serem poucas as licenças, tem gente que acaba tendo 10 ou 20 licenças. Não podemos permitir.
E, como contrapartida, vamos arrumar o sistema viário da cidade. Não vamos mais ter essa bagunça na Capital, como vias sem sinalização, ou vias com 30 km de velocidade em um trecho, 60 km em outro e assim por diante, sem qualquer tipo de planejamento. Vamos acabar com essa distorção que é a indústria da multa. Você só pode ter radar se tiver planejamento. Um exemplo da falta de planejamento: como é que tem um radar na saída da Jurumirim e menos de 300 metros depois tem outro radar? Qual a justificativa disso? Não tem, a não ser a indústria para punir o cidadão. Estão metendo a mão no bolso da classe média cuiabana.
MidiaNews – Não acredita que esses radares servem para educar motoristas e reduzir acidentes?
Julier Sebastião – Sou a favor dos controladores de velocidade, desde que a Prefeitura ofereça a contrapartida, que é o planejamento, com sinalização e vias adequadas. Mas isso não tem hoje. Cadê as passarelas? Cadê o planejamento na hora de fixar esses radares? Por exemplo: todos sabem que a região da Rodoviária é a “cracolândia”. Nós temos um projeto, no plano de governo, chamado “Cuiabá Segura”, que é justamente criar uma Secretaria de Segurança Municipal e englobar uma série de serviços de responsabilidade da Prefeitura e que compõe o conceito de Segurança.
Lá na “Cracolândia” tem que levar a assistência social, psicólogo e retirar aquelas pessoas de lá. Além disso, melhorar a iluminação, a limpeza. No entanto, a atual administração não levou nada disso para aquela região, e colocou um radar em frente à Rodoviária que, durante duas semanas, causou um transtorno enorme para todos que transitam por lá. Parou tudo na região e o resultado é que o radar foi colocado abaixo. Nas outras vias, como Estrada do Moinho e Avenida das Torres, a população está derrubando os pardais. Nós queremos fazer diferente, não vamos meter a mão no bolso da classe média, queremos acabar com as vítimas do trânsito. E, para isso, é preciso planejar, sinalizar e só então colocar o radar.
MidiaNews – Se for eleito, então, vai retirar o radares?
Julier Sebastião – Vamos revisar tudo dentro da política de mobilidade urbana. Com investimentos nas vias públicas, sinalização, asfaltamento, calçamento e presença da Prefeitura, limpeza das ruas públicas. Aí, sim, vamos discutir controle de velocidade. E serão implantados em locais em que há acidentes e não onde tem mais gente, onde se fatura mais. É essa a lógica que vamos implantar. Vamos rever tudo, saber se é legal. Na Miguel Sutil, por exemplo, há uma demanda do Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes] em polo oposto da Prefeitura. O Dnit diz que não deu autorização para a Prefeitura colocar qualquer radar no local. Nós vamos rever, tem que ter legalidade.
MidiaNews – Enquanto isso é revisto, o radar continuará multando?

Sou a favor dos controladores de velocidade, desde que a Prefeitura ofereça a contrapartida, que é o planejamento
Julier Sebastião – Provavelmente não. Se é ilegal, será revisto. Só vamos fazer a ordenação viária da cidade com planejamento e não com intuito de gerar multa.
MidiaNews – Então, admite a possibilidade de desativar os radares eletrônicos?
Julier Sebastião – Todos que estiverem ilegais serão desativados. E colocaremos todos que forem necessários e legais.
MidiaNews – Poderá haver uma nova licitação?
Julier Sebastião – O que for adequado ao planejamento viário da cidade será feito. Não vamos colocar radar sem planejar a via. A arrecadação, hoje, me falaram, gira em torno de R$ 14 milhões. E isso é muito dinheiro. Me falaram porque não é público. Nós vamos fazer diferente e fazer tudo às claras.

Não vamos meter a mão no bolso da classe média, queremos acabar com as vítimas do trânsito e para isso é preciso planejar
MidiaNews – A Prefeitura é obrigada a destinar parte dessa arrecadação nas vias públicas?
Julier Sebastião – Acho que não há qualquer determinação nesse sentido. Nós queremos debater o planejamento viário da cidade em conjunto com a questão de mobilidade urbana. Vamos usar essa arrecadação, que não é pouca, no próprio sistema de mobilidade urbana.
MidiaNews – O senhor tem se mostrado otimista em relação a essa sua estreia na política. A saída do prefeito Mauro Mendes facilita sua vida?
Julier Sebastião – A reeleição é sempre problemática, não só para a população. Nós já tivemos a experiência quando o Wilson Santos fugiu no meio do mandato e entregou a cidade ao Chico Galindo, que hoje apoia o Emanuel Pinheiro, que era secretário do Wilson Santos. Então, é uma turma só. A população cuiabana quer algo diferente. E não estamos aqui para enganar ninguém. Vamos governar para todos os cuiabanos e, para isso, precisamos melhorar a vida de quem é mais fraco em Cuiabá. O pessoal que nunca foi tratado com dignidade na Capital. E quando fizermos esse resgate social, Cuiabá voltará a ser uma cidade melhor para todos.
MidiaNews – Sendo novato, precisa massificar a sua imagem, se tornar conhecido. E esta é uma campanha de “tiro-curto”. Como pretende ultrapassar esse desafio de se tornar conhecido?
Julier Sebastião – Priorizando o nosso plano de governo. Onde estamos indo, debatendo, dialogando. A primeira coisa que apresentamos é o nosso plano. A população vai valorizar as propostas. Por isso, não estamos dando atenção a xingamentos, baixarias, picuinhas, porque nosso cartão de visita é esse plano. E ele tem grandes propostas, como a passagem de ônibus mais barata das capitais, ensino em tempo integral, o programa “Cuiabá Segura”... Vamos obrigar a Energisa a fazer o cabeamento subterrâneo no Centro Histórico, para que aquele espaço seja revitalizado.
MidiaNews – O TRE divulgou o tempo de televisão dos candidatos em Cuiabá e sua coligação ficou com 1 minuto e 54 segundos. Acredita que esse tempo é suficiente para massificar sua imagem e o plano de governo?
Julier Sebastião – Duas vezes ao dia, mais inserções, é um tempo suficiente para que possamos levar nossas propostas. O tempo de TV são dois extremos: aquele que tem muito tempo e não tem conteúdo vai colocar música, filmes bonitos, etc, porque não tem o que cobrir o tempo. E aqueles com o tempo reduzido, do bloco do “eu, sozinho”, que não coliga com ninguém e que também vai ter dificuldade de se apresentar à população. Nós estamos na nossa medida e tempo exato para mostrar nosso programa e levar nossas candidaturas aos cuiabanos.
MidiaNews – Teme o fato de o adversário Wilson Santos ter o apoio da máquina estadual e municipal e Emanuel Pinheiro, da máquina federal?
Julier Sebastião – Nós somos os “sem-máquinas”. Não temos a máquina municipal, não temos a presidência da Câmara de Vereadores, não temos o Governo do Estado, a presidência da Assembleia ou o Governo Federal. Não temos nada. O que vai nos conduzir é a força popular, das ruas. E justamente o fato de nossos adversários representarem essas máquinas é que faz com que tenhamos liberdade de poder escolher nosso rumo, que será cuidar dos mais pobres. Então, vamos operar em um terreno que sempre operamos: nunca tivemos dinheiro. E cabe à Justiça Eleitoral, ao Ministério Público, à polícia e à sociedade fazer a devida repressão, porque não temos o aparato do Estado. O que nos faz temer pelo desequilíbrio da disputa eleitoral, pelo uso do caixa 2, uso de recursos espúrios. Nós vamos atuar na legalidade. Eu sempre digo aos companheiros: “A legalidade é nossa, a ilegalidade é dos adversários”.
MidiaNews – Então, isso pode te prejudicar?
Julier Sebastião – Sem dúvida é um fato que pode desequilibrar a disputa eleitoral e é por isso que rogo que as nossas autoridades atuem.
MidiaNews – Como analisa a troca do prefeito Mauro Mendes por Wilson Santos?
Julier Sebastião – O que vejo é que os dois adversários [Wilson Santos e Emanuel Pinheiro] são do mesmo grupo. Um era secretário do outro, que é candidato do outro, que era coordenador do outro. Wilson é Pedro Taques, que é Mauro Mendes, que é Emanuel Pinheiro. Estão há quase duas décadas assim. E o candidato do PSDB tem uma história que foi interrompida. Ele diz que quer ser perdoado e pagar sua dívida com os cuiabanos, mas tem que perguntar de que forma os cuiabanos querem receber essa dívida. Provavelmente a maioria vai dizer que não é dando um novo mandato de prefeito a ele. Não precisa ser Mãe Dinah para saber o desejo dos cuiabanos. E ele já começou violando a própria promessa, porque disse que não interromperia mais nenhum mandato, mas está fugindo do mandato de deputado estadual para ir para o mandato de prefeito. Quem garante que ele não vai fugir desse novo mandato de prefeito? Acho que isso é ausência de compromisso com o povo cuiabano.
Marcus Mesquita/MidiaNews

"A reeleição é sempre problemática. Nós já tivemos a experiência quando o Wilson Santos fugiu no meio do mandato"
E nós queremos fazer diferente, nosso compromisso é com o povo e não vamos largar mandato no meio para fugir. Não vamos largar mandato de prefeito para seguir mandato de senador, deputado ou governador. Quero chegar ao final de quatro anos, sair da Prefeitura, olhar para meu povo cuiabano e dizer que cumpri meu dever com dignidade, dizer que melhorei a cidade.
MidiaNews –Wilson o acusou de prejudicar Cuiabá em função da Operação Pacenas, que, segundo ele, fez com que milhões deixassem de vir para o saneamento básico pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Julier Sebastião – O foro privilegiado no Brasil protege algumas pessoas, notadamente políticos não tão probos. O Wilson Santos só não foi preso na Pacenas porque tinha foro privilegiado. Além disso, basta ver como são idênticas a Pacenas e a Operação Rêmora, mesmo modus operandi, mesma história. O que não pode é roubar dinheiro de saneamento. E isso, sendo juiz, delegado, prefeito ou governador, nunca vou admitir.
MidiaNews – Então, o dinheiro do saneamento foi roubado?
Julier Sebastião – O dinheiro do saneamento em Cuiabá foi desviado. Tanto que cadê o saneamento? Cadê o dinheiro?
MidiaNews – Foi desviado por quem?
Julier Sebastião – Pelos que foram presos.
MidiaNews – Quem foi preso?
Julier Sebastião – Isso tem que ir ao processo para saber. Mas como é que um prefeito recebe R$ 500 milhões para sua cidade, não dá conta de fazer licitação, deixa o pessoal roubar, deixa o dinheiro ir embora, foge de um mandato e ainda vem se dizer injustiçado? Você teve foi sorte, porque quase foi preso se não fosse o foro privilegiado. Eu considero que é um incompetente como prefeito, para dizer o mínimo.

Você [Wilson Santos] teve foi sorte, porque quase foi preso se não fosse o foro privilegiado. Eu considero que é um incompetente como prefeito
MidiaNews – Ele disse que foi arquivado.
Julier Sebastião – O Wilson Santos diz muita coisa, você acredita no que Wilson Santos diz? Se eu acreditasse, votaria nele.
MidiaNews – Como eventual prefeito, como vai tratar o saneamento?
Julier Sebastião – Nós vamos fazer diferente. Vamos cuidar do saneamento de Cuiabá. Vamos retomar a CAB, que voltará a ser Sanecap. Vamos acabar com essa pouca vergonha que foi instalada no saneamento de Cuiabá, com água podre, mau cheiro, concessionária ganhando dinheiro a rodo, omissão total do Poder Público, sem universalização da água, sem esgoto em bairro rico ou pobre. Não vamos permitir que esse descalabro permaneça. E quem começou esse descalabro foi, primeiro, o prefeito que fugiu [Wilson Santos] e o prefeito que ficou e apoia o outro candidato [Chico Galindo, que apoia Emanuel Pinheiro]. Ou seja, a dupla de candidatos a prefeito que não vai poder discutir isso, porque sequer tem legitimidade para isso.
Então, vamos retirar da esfera privada a companhia de saneamento da Capital, voltar com a Sanecap, cumprir as metas que a população espera. Porque saneamento não é para dar lucro, é para dar saúde às pessoas. A CAB assumiu a Sanecap porque o prefeito Wilson Santos e o Chico Galindo queriam lucro. Mas saneamento não é para lucro.
MidiaNews – Admite algum tipo de ação judicial contra a CAB?
Julier Sebastião – Vamos auditar esse contrato e punir os responsáveis por ter feito essa tragédia com o saneamento da Capital.
MidiaNews – O candidato Emanuel Pinheiro ganhou musculatura política após fazer oposição a gestão do governador Pedro Taques, em especial na questão da Revisão Geral Anual (RGA). Como analisa a candidatura do peemedebista?
Julier Sebastião – A nossa candidatura não só fala, mas também faz. Tem uma diferença muito grande entre o gogó e a ação efetiva. E o PDT, por meio do deputado estadual Zeca Viana, foi quem entrou com ação judicial em defesa dos servidores públicos. É com esse exemplo que vamos tratar a questão dos servidores públicos em Cuiabá, entendendo que são, efetivamente, a base da transformação de qualquer política pública a ser implantada na cidade. Essa é uma questão que serve para dizer que não somos oportunistas em querer transformar um só assunto em pauta de toda uma eleição de Prefeitura. As pessoas que não são servidores do Estado também querem saber o que será feito com o saneamento, com a mobilidade urbana, com a saúde. E um candidato que não apresenta plano de governo já perde pontos nessa questão. O problema não é apenas o fato de o candidato ser vinculado ao atual prefeito, o trair da noite para o dia e virar candidato. Não é só porque foi secretário do Wilson em sua administração. O grande problema é: cadê o programa de governo?
Marcus Mesquita/MidiaNews

"Como é que um prefeito recebe R$ 500 milhões, não dá conta de fazer licitação, deixa o pessoal roubar, foge de um mandato e ainda vem se dizer injustiçado?"
MidiaNews – O senhor deu diversas declarações polêmicas nesse início de campanha. Vai continuar com essa linha contundente até o final da campanha?
Julier Sebastião – Nós temos lado, que é o lado dos mais pobres. Temos como prioridade inverter as políticas da Prefeitura e colocar o foco nas políticas sociais. O fato de ter língua afiada ou não, é porque as pessoas me conheciam como juiz e, nessa condição, não entrava em embates. Então, nós vamos defender nossas propostas, porque temos lado e para defender esse lado, discuto, abertamente, de forma franca.
MidiaNews – E se for atacado? Por exemplo, já citaram a Operação Ararath, em que foi alvo de um mandado de busca e apreensão em sua residência e ação penal. Vai revidar à altura?
Julier Sebastião – Vamos debater de forma franca, aberta e serena, assim como fazemos em todos os assuntos. Já dizia Jesus Cristo: “se alguém lhe der um tapa na face, ofereça a outra”. Nós vamos seguir esse ensinamento cristão e dizer que podem falar o que quiser, estamos aqui para defender os pobres. A questão da Ararath foi anulada, arquivada no Tribunal Regional Federal (TRF).
MidiaNews – A sua vice, Jusci Ribeiro, é do PT. Este é um momento delicado para o partido no cenário nacional, com a possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A que se deve essa escolha?
Julier Sebastião – Nossas alianças tem a ver com nosso comprometimento de promoção dos interesses dos mais pobres. Aqueles que estão comprometidos com esse programa de governo, com esse eixo central de nossa candidatura, serão bem-vindos. E o Partido dos Trabalhadores tem uma história de luta em favor dos mais pobres. Não se pode esquecer que o presidente Lula é uma das lideranças mais populares do país e tirou grande parte da população da miséria. Ele é um grande líder. Mas a disputa é de prefeitura e eu não preciso ir lá a Brasília para buscar exemplos. Aqui em Cuiabá, um dos nossos adversários está com o secretário preso [ex-secretário de Educação, Permínio Pinto], em um esquema semelhante ao que ocorreu na Pacenas; o outro adversário também com correligionários presos [o ex-governador Silval Barbosa]. Aqui não tem ninguém do PDT, do PT ou do PCdoB preso por corrupção. Vamos começar olhando os nossos vizinhos antes de olhar os mais distantes.

Vamos auditar esse contrato e punir os responsáveis por ter feito essa tragédia com o saneamento da Capital
MidiaNews – O ex-vereador Lúdio Cabral vai ser seu cabo eleitoral?
Julier Sebastião – O líder Lúdio Cabral é um dos principais personagens da cena política mato-grossense. É uma liderança reconhecida, qualificada, e um dos nossos apoiadores. O Lúdio, assim como Alexandre César [ex-deputado estadual], e o Zeca Viana, fazem parte do conselho político da nossa candidatura e estão engajados e contribuindo em nosso projeto.
MidiaNews – Ele vai gravar programa eleitoral e participar das caminhadas na rua para pedir voto?
Julier Sebastião – Ele tem as atribuições profissionais dele, mas, na medida do possível, estará conosco na campanha. Será uma peça fundamental nesse diálogo com a população que queremos fazer.
MidiaNews – Ele agrega valor no sentido de puxar votos?
Julier Sebastião – Sem dúvida nenhuma. Cuiabá é uma cidade definida, do ponto de vista político, e os pleitos eleitorais, nos últimos anos, foram todos divididos no metade-metade. Historicamente, o PT sempre esteve no segundo turno, em 2004 ficou com 49%, em 2008 e em 2012 foi o mesmo percentual. Então, Cuiabá é bastante equilibrada do ponto de vista ideológico. O PT sempre faz aqui a metade dos votos. E tenho que considerar essa parcela expressiva da população, que é suficiente para colocar um candidato no segundo turno e em condições de vencer a disputa.
MidiaNews – Com relação a arrecadação da campanha, o teto em Cuiabá ficou em R$ 9 milhões. Esse valor é suficiente para se fazer uma campanha?
Julier Sebastião – Se eu chegar nesse teto, ganhamos a eleição. Espero que os cuiabanos entendam que temos uma campanha que depende da participação e contribuição de cada um. Espero que as pessoas contribuam, porque é assim agora. Aliás, os candidatos precisam se acostumar com isso e os eleitores também. Mas não temos estimativas de quanto arrecadar, dependemos da boa vontade dos nossos cidadãos. Se eles derem essa graça, ficaremos agradecidos, caso contrário, ficaremos agradecidos do mesmo jeito com as contribuições que recebermos.
MidiaNews –O governador Pedro Taques ascendeu politicamente com discurso de combate à corrupção. Entretanto, com menos de dois anos de gestão, teve um secretário preso. Acredita que isso tira a legitimidade desse discurso?
Marcus Mesquita/MidiaNews

"Não se pode esquecer que o presidente Lula é uma das lideranças mais populares do país e tirou grande parte da população da miséria"
Julier Sebastião – O brasileiro pensa exatamente assim, que não se deve deixar roubar. O administrador, então, não pode deixar roubar. Evidentemente que não temos uma sociedade perfeita. E é nisso que entra a questão que nos diferencia: não tratamos o combate à corrupção como fim, mas, sim, como meio. O propósito do Governo não é só combate à corrupção, isso é o meio, para que a finalidade se cumpra, que é promover a vida dos mais pobres, dos menos favorecidos. Então, vamos combater a corrupção para que o recurso da Saúde chegue ao bairro; vamos combater a corrupção para que o recurso das escolas chegue e não seja desviado igual ocorreu com a turma do outro candidato; vamos combater a corrupção para que o recurso chegue até a manilha de esgoto e não o que ocorreu na Pacenas; enfim, isso é um dever da administração, não é para o cara ficar se vangloriando. Quando você coloca o combate à corrupção como fim e acontece uma irregularidade, trinca o discurso.
MidiaNews – Em sua opinião, o discurso de combate à corrupção do governador está trincado?
Julier Sebastião – Não vou fazer o julgamento do Governo do Estado, porque estou focado em Cuiabá. Eu acho que um governo não pode ter corrupção e deve combatê-lo, mas não pode fazer só isso. Se for fazer só isso, as pessoas vão começar a questionar que no governo anterior roubavam, mas tinha obra.
MidiaNews – Acredita que o governador, nesse caso da Seduc, teve algum tipo de culpa?
Julier Sebastião – Tem o juízo político, que o governador é responsável, e tem o aspecto jurídico que cabe à Justiça verificar quem é o responsável, punir e prender. As coisas tem que ser distintas, não podem se confundir. Mas é um caso de corrupção no governo, então é uma falha. Todo caso de corrupção em um governo é uma falha administrativa.
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